Ela não quis o Azambuja...

O Azambuja era fudido. Podíamos dar só uma rápida passada em um convento franciscano, que mesmo assim ele não saía de mão abanando. Se não tirasse umamulher de lá, no mínimo voltava com o número de telefone de uma noviça então apaixonada. Mas Azambuja era democrático. Para ele não existia nenhum tipo de seleção ou exclusão. Podia ser loiras, morenas, ruivas, negras, índias, orientais,cristãs, judias, islâmicas, fundamentalistas, sonhadoras, materialistas,adinheiradas, empobrecidas, sadias, epilépticas, atônitas, salgadas, não importava. Todas as fêmeas eram passíveis de seu amor. Bastava duas latinhas de Schin para que ele bradasse o seu lema:"- Tem? (Ele sinalizava uma representação de vagina utilizando asextensões de seus dedos polegares e indicadores das mãos) Então serve!"Completava ao simular uma lambida em suas mãos. Mas para nosso espanto, esse poço de insensibilidade era capaz da mais complexa e audaciosa conquista. Mas nem sempre foi assim. Era fevereiro. O sol escaldante e a temperatura elevada fritavam nossos neurônios que dependiam de uma alta litragem de cerveja diária para amanutenção do raciocínio sereno e são. Ficávamos na beira da praia de Imbé lagarteando, enchendo a cara, dando bote em tudo que era mulher, enfim,fazendo tudo que rege a tradição praiana, a espera do inesperado, até que elea conteceu. Por de trás de um quiosque sai uma morena caminhando em direção ao mar. Até aí tudo bem, já que o sol estava tão forte que o mar era a maneira mais rápida e prática de refrescar-se. Mas acontece que essa morena não era uma simples coadjuvante do cenário. A bunda dela era tão grande e redonda, e o biquíni dela era tão pequeno e enterrado, que tornara-se impossível não focar aquele imenso porta-malas.- Rica "rabeta", hein seu Pyw? Disse Azambuja com aquela cara de safado manco. Fiz um sinal de positivo com a cabeça e continuei a admirar aquele incrível par de nádegas. Sequei tanto que nem notei o momento em que Azambuja renunciou o papel de espectador afim de pleitear a função de protagonista da bunda da morena. Ao contrário de mim, que de sunga represento uma versão tridimensional doHomer Simpson, Azambuja se sentia ainda mais capaz em trajes de banho. Apesarde suas cervejadas homéricas e seu doentio gosto por bacon, as horas passadas na academia faziam de Azambuja um homem atraente para as mulheres quando despido.
- Quem me dera fosse água para adornar seu corpo... (Disparou nosso heróicomo um primeiro contato).
A risadinha tímida porém convidativa foi a melhor resposta que Azambuja poderia Ter para iniciar o bombardeio. Se aproximou ainda mais da moça ecomeçou a apresentação:
- Sou Azambuja, leonino de ascendente escorpião, que não gosta de ser indiscreto mas que perante beleza tão perto, não foge de uma cantada jargão. Nunca fui muito partidário da cantada rimada, mas que o cara conseguia surpreender com isso ninguém podia negar. A presença de espírito de Azambuja foi tão eficaz que doze minutos depois os dois já estavam sentados numa mesa, roçando suas pernas, tomando caipirinha e trocando elogios, olhando-se nos olhos. Como bom caçador ele já havia hipnotizado a presa a espera do bote. Mas antes que houvesse o beijo selador da conquista, Azambuja pecou pela vaidade.- Te falei que tenho uma tatuagem? ? Disse mostrando as costas. Azambujase orgulhava mais daquele manuscrito em latim impresso em sua pele do quequalquer outra habilidade ou posse sua. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro. A apresentação da gravura que sempre lhe rendeu admiração de ninfetas, dessa vez causou repúdio. Filha de coronel, a guria bunduda não suportava a idéia de nada que lembrasse hippies ou adolescentes transviados. Ela inventou uma desculpa, levantou-se da mesa e destinou-se ao mar parao então banho interrompido e Azambuja ficou lá, pálido e boquiaberto com atraição de sue amuleto. A conquista parecia tão certa que a surpresa da vaia que levara, o levou a nocaute. Ele se despediu, negou a saidera e rumou à rodoviária. Nunca mais vi ele.Já estávamos no final do veraneio e nos anos seguintes nunca mais pareceu no Balneário de Imbé. Andaram me dizendo que o viram gordo, barbudo e calado em Cidreira. Não duvido. Para quem viveu sempre no apogeu, um deslize pode representar a mais terrível das quedas. Já a morena terminei encontrado em um carnaval dois anos depois, trovei e a cobri. Mas "grandes bostas". Tinha mau hálito, os peitos eram bem caídos e era orgulhosa demais para ficar de quatro. Entretanto aquele rabo foi o suficiente para derrotar o tatuado e pegarino Azambuja.


Pyw

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