Evento de roque de empresa grande de telefonia celular - parte 2 de 3

parte 2 de 3

Chácara do Joquei, amendoins e caos.


Chegamos na chácara no momento exato. Muitas pessoas na rua de acesso. Uma garota transtornada tenta brigar com um taxi, ou com um poste, não me recordo. É contida por policiais, ou taxistas. Ambulantes, cambistas e pessoas de preto se misturam numa massa amorfa. Fazemos nosso melhor e conseguimos, enfim, achar a entrada. Entramos. A Cachorro Grande já tocou, e as demais bandas das seletivas regionais também já haviam finalizado seus shows. Todos tremendamente horríveis, ou comuns, decerto, pois a hedionda Cartolas acabou a noite coroada campeã do arremedo de festival paralelo. Ganharam a gravação de um disco, 2 videoclipes e uma Van adesivada. Espero que se mudem para São Paulo, com sua recém-ganha Van adesivada. As pessoas es São Paulo parecem mais tolerantes com bandas ruins que baseiam seu som em clichês batidos da década de setenta. Não, esse é um espectro muito amplo para esta banda. Seriam clichês batidos dos Rolling Stones, mais especificamente. Cachorros grandes cover. Nenhuma novidade. Há dúzias de bandas de pseudo-mods em porto alegre. Alguma acabaria conseguindo algo, pela insistência.

Ouvimos, forçosamente, ao hediondo show da Good Charlote. Punk-Rock adocicado na sua pior forma. Mas, uôu, o guitarrista usa uma fantasia com máscara. Radical. O ponto baixo dos shows. Aliás, o único. Dali em diante, todos shows seriam memoráveis, até mesmo o experimentalismo estupefaciente da nova banda do Mike Patton, os Fantomas. Me assusto um pouco com as músicas que não respeitam nenhuma linearidade melódica, e com os latidos e gritos de menina morrendo do sr. Ex-faith no more. Já que ele tava ali, bem que ele podia tocar algo do Angel Dust, ou Epic. Nada disso importa, pois estamos guardando nosso lugar na frente do palco para o show doce dos lábios flamejantes.

Ah, sim. Os shows ocorriam em dois palcos, um em cada extremo do local. Enquanto uma banda toca, o palco vazio é preparado para a outra, e alguns com um senso de propósito mais aguçado já guardam seus lugares, o mais perto possível do palco. Nos tínhamos um propósito, e cumprimos ele com sucesso.

Me dei conta disso ao ver, a quatro metros de mim, o excelente show dos Sonic Youth. Não poderia ter sido melhor. Mais sobre questões de posicionamento, abaixo.

No final, a sensação de propósito atingido, a o vontade irrefreável de sentar em uma colina afastada e assistir, ao longe, o último show da noite, da por mim semi-desconhecida Nine Inch Nails.

Nada Disso.

O Último show da noite

Não tenho mais ligamentos. Meus tendões estão amortecidos. já pararam de doer, estão no estágio superior à dor. O próximo passo é a amputação dos membros inferiores. Isso têm que acabar. Mal consigo caminhar, após 3 horas de comunhão com Flaming Lips, Sonic Youth, bichos de pelúcia, sexo com guitarras e milhares de pessoas à volta. Isso tudo é esquecido frente ao impacto da cachoeira horizontal de luzes e formas geométricas ameaçadora e ofensivamente iluminadas vindas do palco, acompanhando as guitarras e baixos e batidas e ruídos aleatórios em volume insano, dos Unhas Longas, de NOVE polegadas.

NIN fudeu com meu crânio. Fui obrigado a ficar de pé e me sacudir erraticamente, tentando seguir o ritmo alucinado da mistura de hardcore, porn-core, eletrônico e industrial (sim, tudo é industrial). Á uma distância segura, claro. Nunca encontraria determinação, àquela hora, naquele estado. Não me preocupava mais com as pernas. Me preocupava apenas em não ser cegado pela maior quantidade de luzes juntas desde, ãhn, sempre. O som me agredia e me estapeava a cara, e me desafiava, e me dizia vai, senta, tenta sentar, eu te desafio. me ignora, dizia a maçaroca sonora. Enfim, não achei palavras na hora, não tentarei mais. Me senti violado. de surpresa. Me senti voltando da escola do rock, após minha aula com o professor Jack Black, e sendo puxado para um beco escuro. Violado por sons grotescamente aterradores e luzes alienígenas.

Chega.

Flaming Lips: doce. doce doçura. docemente doce. deixei uma garota assistir à parte do show na minha CACUNDA, contagiado pela atmosfera docemente doce do show. Excelente. curto, porém. Estava à 2 pessoas da grade. nunca assisti à um show tão de perto, pelo que me recordo.

O mesmo, em termos de posicionamento, vale para o show dos jovens sônicos. guitarras, muitas guitarras. uma loja de guitarras. E nunca vi ninguém lidar tão bem com elas. Filhos da puta, todos eles. O melhor show.

Ah, devo citar a Nação Zumbi. Primeiro show que assisto deles. Muito peso na percursão ao vivo. Percursão ao vivo detona bolas, que o diga o cordel do fogo encantado.

Acabou, enfim. Todos, aparentemente hipnotizados pelo estupro coletivo, se dirigem vagarosamente para a saída, enquanto o retardado, aquele, da mtv, anuncia a banda vencedora. Nos olhamos, em expectativa, pensando que grande piada seria se os Cartolas ganhassem. Ah, obrigado, Douglas, por ter levado um supermercado dentro do casaco. Não sei o que eu faria sem os pontuais mantimentos. Acho que eu teria desmaiado, durante o NIN, se não fosse o chocolate.


O Taxista.


Nãh, não vou falar do taxista. Ele só era meio rude, mas devia estar com sono. Acho que os são-paulinos têm essa dualidade de comportamentos como algo natural. Lembro, agora, da excelente resposta à pergunta, feita ao atendente do boteco aonde comemos pasteis, na chegada, em relação à existência ou não de cardápio, no local. Não, disse ele, e se virou, sem nem ao menos apontar a relação de preços, quase apagada na parede. Deveras engraçado.

Ao menos o taxista ganhou o resto de chocolate, que deve ter escapado do bolso do Douglas, em um momento de descuido. Chocolate e o fedor insuportável dos peidos do Renan. Acho que entendo o seu mau humor, agora.

Dormimos na sala, em um colchão + almofadas bem confortáveis, para nosso estado de costas moídas e não-existência de ligamentos e tendões. Espero que não tenhamos roncado.

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